Tem gente que gosta de romancear fatos, uma doença vira um toque, com momentos marcantes, "crescimentos", encontros com seres superiores.
Na minha não teve glamour, não encontrei ninguém de fora da terra, não tive nenhum contato divino, um aprendizado, momento de reflexão, não vi luzes ou sai do corpo, nada de algum crescimento.
Tive uma doença chata, muito medo, dor, solitária e apavorante. Eu queria ter forças, não conseguia. O grande divisor foi o corticoide, que me tirou do fundo do poço.
No dia 3 de dezembro achei que ia morrer, pensei em algo para comer na última refeição, tinha o iFood para escolher, não tive nenhuma vontade. Imaginei Paolla Oliveira entrando lá em casa, deu um sono, uma vontade de dormir. Estava acabado, sem instintos. Talvez esses foram os pontos de "conhecimento" mais aguçados. Ou seja, minha doença teve a profundidade reflexiva de uma bacia com pouca água.