Texto de Gabriel Negreiros:
Como eu tenho ouvido esse termo. Prostituído, a palavra virou um escudo ou uma arma, caso você prefira. Serve para você diminuir alguém que pensa diferente de você. É usada o tempo inteiro para a falta de argumento ou simplesmente para impor um pensamento que você não tem como embasar. Para qualquer coisa que discordarem, use: “tenha empatia”.
“É lockdown, tenha empatia!”, berram os moderadores da vida alheia. Outros, piores, ainda dizem: “o choro é livre”.
Vivemos em uma sociedade falida onde o ser humano não importa. Apenas o seu pensamento pode prevalecer. Tenha empatia, eu estou pensando e apenas o meu pensamento serve!
Enquanto os governantes brincam com a saúde do povo, destroem nossa capacidade de trabalho cerceando nossos direitos, lhe empurram goela abaixo restrições para sua vida e ainda lhe faz de culpado por tudo isso, você grita por empatia.
“Respeitem as vidas, tenham empatia”. Lutar pela sobrevivência não é falta de empatia. Se colocar em risco indo trabalhar para sustentar a própria família é ter empatia com as pessoas que precisam de você, do seu trabalho. Até onde vai a sua empatia? Ela não é capaz de entender que a maior parte da população brasileira precisa vender o almoço para poder jantar? E mesmo que precise colocar sua vida em risco é necessário correr esse perigo? Sua empatia serve apenas para quem perdeu um familiar para essa doença trágica?
Quem é você para determinar que alguém não tem empatia pelo outro pelo simples fato que esse outro alguém precisa sobreviver e manter sua família? Moderadores do caos, que analisam o próprio umbigo e sua barriga cheia. O que é essencial para você?
Enquanto você briga com o seu vizinho pela falta de empatia, o corrupto que você elegeu prevarica em cima dos benefícios infinitos e da caneta poderosa que você concedeu. Enquanto você liga pra polícia e denuncia o pobre comerciante que precisa vender alguma coisa para manter seu negócio ativo, o judiciário regozija-se em sua alta patente e no poder de suas togas, com salários e benefícios desproporcionais.
A falta de capacidade da gestão pública nos levou para um abismo que parece não ter fim. A incapacidade de educar, orientar, esclarecer ou fiscalizar quem descumpria normas básicas para esse momento de pandemia nos levou ao caos.
Enquanto empresas são seriamente fiscalizadas a clandestinidade fez o que quis. Falhamos todos. Falhamos em muitos sentidos.
Isso tudo não é sobre cercear o trabalho, é apenas uma pequena amostra de que podemos evitar muitas coisas fazendo apenas o básico.
Use máscara, álcool, evite aglomerações desnecessárias, saia apenas para fazer o que é essencial, mas não deixe de fazer o seu trabalho! Sim, eu sei, o essencial de cada um é pessoal. Nesse caso, tenha empatia!