Meu filho Ricardo Negreiros, 22 anos, estudante de medicina na UFPB, homenageou Olavo de Carvalho. Vejo muitos parasitas falando do professor, alguns comemorando a morte dele. Leiam esse texto do meu filho e vejam quem foi Olavo de Carvalho:
"Conheci Olavo de Carvalho no final de 2013, quando eu era só um adolescente que via vídeos na internet. Ele falava das polêmicas atuais com muitos palavrões e eu achava divertido e produtivo (porque usava na discussões do IFRN).
Achei que era só o True Outspeak e seus cortes falando sobre banalidades. Entretanto, em 2014, chegou às livrarias de Natal “O Mínimo que você precisa saber para não ser um idiota”. Fui correndo comprar, pois achei que os artigos em papel eram iguais aos vídeos.
Mas foi bem diferente do que eu esperava.
Não encontrei os palavrões, o vocabulário era mais difícil e os temas tratados, embora políticos e sociais, eram desenvolvidos com paciência, em artigos que trabalhavam, por vezes, coisas que nunca tinha escutado sobre.
Gostei, fiz um esforço, e terminei o livro. Estava encantado com o conteúdo político e certamente usei no IFRN. Então eu resolvi comprar outro best-seller de Olavo: “O Jardim das Aflições” (inclusive foi o nome da minha equipe em uma olimpíada de história), um ensaio sobre o materialismo.
Mas era um muro intransponível. Era difícil de ler e de entender. Foi ai que o próprio Olavo disse, em um vídeo, que antes de qualquer esforço intelectual, deve-se ter cultura literária.
Comecei a ler “Crime e Castigo” de Dostoiévski, e também percebi que não era fácil. Totalmente diferente da leitura juvenil de Harry Potter, senhor dos anéis e outras fantasias e aventuras.
No fim, li e adorei. Então vieram outros autores, como Goether, Herta Muller, Mario Puzzo, Ogai Mori, Anton Tchekov e outros… Tudo para ler “O Jardim das Aflições”.
No fim 2015 retornei ao livro e, aquilo que era enfadonho, tornou-se leve e gostoso. Era profundo que dava outros ares ao cotidiano, mostrava aspectos da antiga filosofia grega e como ela culminou no materialismo moderno e no marxismo.
Percebi que aquele velho não era pouca coisa.
Continuei a acompanhar, ler seus textos e suas recomendações.
Acontece que Olavo não parou de me apresentar novas pessoas. Em todas as aulas ou comentários citava uma gama de autores e filósofos que eu nunca tinha ouvido falar. Um francês chamado Louis Lavelle, um americano chamado Eric Voegelin, um brasileiro chamado Mario Ferreira dos Santos, Mircea Eliade, Leopold Szondi…
E eu querendo saber onde estavam os grandiosos filósofos que aprendi na escola: Maquiavel, Descartes, Kant… Em tempo, descobri estava cada um: Maquiavel estava no livro “Maquiavel ou a confusão demoníaca” e nunca mais consegui olhar para meu exemplar de “O príncipe” sem sentir nojo; Descartes em “Visões de Descartes” e só pude sentir pena; Kant ele fala o tempo todo: ridiculariza a coisa em si de Kant e o infame conceito de que “As realidades metafísicas só podem ser pensadas, mas não conhecidas”.
Olavo me mostrou que o mundo era maior que a escola e me mostrou o verdadeiro sentido de educar e ser educado.
Não ficou só nisso, claro. Ele gostava muito de falar de Nosso Senhor Jesus Cristo, da Igreja Católica, da vida dos santos, da imortalidade, do supra-sensível, daquilo que persiste ante a matéria e se prolonga na eternidade.
Conheci um novo senhor chamado São Tomás de Aquino e li “Sobre o ensino/Os sete pecados capitais”. Percebi que ali nos escolásticos havia razão, beleza e brilho (ao contrário do senso comum que chama a época de “idade das trevas”).
Em meio aos doutores da Igreja, senti que a vida não se limita apenas a isto aqui, há algo mais.
Assim, sai de um niilismo adolescente e voltei a ter fé, a rezar e a amar a Deus e sua Igreja.
Fui aluno do Curso Online de Filosofia (COF), e sempre que assistia uma aula, meditava depois para assimilar tudo que tinha escutado. Era um espetáculo. Ver um filósofo em atividade, bem ali na minha frente, debatendo os antigos e mostrando a insignificância da modernidade perante a História.
Atualmente, estou lendo “Inteligência e Verdade” (lançado em 2021), mas fui interrompido pela notícia da morte do professor.
A sensação inicial foi de desespero, como se eu tivesse me tornado um órfão intelectual. Por um instante, o que era um oceano em uma gota, tornou-se uma gota perdida no oceano.
Mas lembrei-me das próprias palavras do professor Olavo: o que quero nesse curso não é que vocês dependam de terceiros para serem inteligentes e tomarem para si conclusões, e sim que possam analisar aquilo que é dito, à luz do conhecimento e com amor pela verdade, e discernir o que deve ser incorporado ao seu ser, tornando-se, então, completo em si.
Eu sou como sou, ou não sou.
Olavo mudou o Brasil, mas, mais importante ainda (para mim, evidentemente), mudou minha vida. Agora, parte da materialidade e vai para a eternidade. Deixa de ser carne e vira espírito. Tenho certeza que, perante a morte, Deus o perguntou: “você quer voltar? E ele disse “uma porra, vamos embora”.
Mas ele permanece. Seus livros continuam, o COF continua, seus alunos continuam. Nenhum autor conquistou seu ápice de prestígio em vida, e com ele não será diferente. Olavo ainda vai fazer muita coisa neste mundo.
A frase que mais o representa, por mais que não seja dele, é:
Os dias passam, eu fico.
Muito obrigado por tudo, professor. Descanse em paz e com orgulho."