Um dia depois de o presidente Donald Trump declarar que o programa nuclear do Irã havia sido “completa e totalmente obliterado” por bombas perfurantes de bunkers e uma saraivada de mísseis, o estado real do programa parecia muito mais incerto, com altos funcionários admitindo que não sabiam o paradeiro do estoque de urânio do Irã, que está em um estágio de qualidade quase no ponto para fabricar bombas.
“Vamos trabalhar nas próximas semanas para garantir que façamos algo com esse combustível e isso é uma das coisas sobre as quais vamos ter conversas com os iranianos”, disse o vice-presidente JD Vance ao programa “This Week” da rede ABC, no domingo, referindo-se a um lote de urânio suficiente para fazer nove ou dez armas atômicas.
No entanto, ele argumentou que o potencial do país para construir uma arma havia sido substancialmente atrasado porque não tinha mais o equipamento para transformar esse combustível em armas.
Em uma conversa com repórteres no domingo, o secretário de Defesa, Pete Hegseth e o novo chefe do Estado-Maior, Dan Caine, evitaram repetir as exaltações de sucesso feitas por Trump.
Eles disseram que uma avaliação inicial dos danos nos três locais atacados por bombardeiros B-2 da Força Aérea e mísseis Tomahawk da Marinha mostrou “severos danos e destruição”.
Fotografias de satélite do alvo principal, a unidade de enriquecimento de urânio Fordow que o Irã construiu debaixo de uma montanha, mostraram várias cavidades onde uma dúzia de bombas “bunnker buster” de 14 toneladas — uma das maiores bombas convencionais no arsenal dos EUA — perfuraram buracos profundos na rocha.
A análise inicial do exército israelense concluiu que o local, alvo dos planos militares americanos e israelenses por mais de 26 anos, sofreu danos sérios com o ataque, mas não havia sido completamente destruído.
Mas havia também evidências, de acordo com dois funcionários israelenses com conhecimento de informações da inteligência, de que o Irã havia movido equipamentos e urânio do local nos últimos dias.
E havia crescentes evidências de que os iranianos, atentos às repetidas ameaças de Trump de tomar ações militares, haviam removido 400 quilogramas de urânio enriquecido a 60% de pureza. Isso está pouco abaixo dos 90% que são geralmente usados em armas nucleares.
Rafael Mariano Grossi, o diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica, disse por mensagem que o combustível havia sido visto pela última vez por suas equipes de inspetores das Nações Unidas cerca de uma semana antes de Israel começar seus ataques ao Irã.
Mas ele disse na CNN que “o Irã não fez segredo de que protegeu este material.”
Questionado por mensagem mais tarde se ele queria dizer que o estoque de combustível — que é armazenado em caixas especiais pequenas o suficiente para caber nos porta-malas de cerca de 10 carros — havia sido movido, ele respondeu, “Sim.”
Estadão