Ajoelhado sobre os paralelepípedos escuros da Via dela Concillizazione, de onde podia se acompanhar a missa de despedida do Papa Francisco, um homem junta as palmas das mãos e abaixa a cabeça. Ao seu lado, uma mulher imita o gesto e se ajoelha, abaixa a cabeça e reza. Ao lado das colunas da Praça de São Pedro, um senhor se protege do sol escaldante. Ele veste chinelos de plástico e meias, contrastando com o blazer e a camisa escolhidos para o dia da adeus ao Papa. Coloca as mãos sobre o rosto, cobrindo os olhos, e começa a chorar. A emoção tomou conta da Praça de São Pedro e das ruas ao redor do Vaticano no dia do funeral do Papa. Cerca de 250 mil pessoas lotaram o local e as ruas próximas para assistir à cerimônia no sábado. As lojas pararam de receber clientes, e todos, fiéis, turistas e lojistas se viraram para o centro da praça, onde acontecia a celebração, ou para os telões e televisões que a retransmitiam.
Lábios repetiam baixinho a reza de acordo com as instruções dos religiosos, enquanto alguns procuravm os socorristas da Cruz Vermelha para pedir água nos pontos de distribuição das garrafinhas plásticas. Muitos jovens, gente de muitas nacionalidades enrolada em bandeiras do mundo todo e padres ficaram nas pontas dos pés para tentar assistir da melhor maneira possível o momento histórico.
– Eu pensei que seria uma experiência muito boa para mim e para as minhas crianças participar deste momento histórico – disse ao GLOBO o americano Louis Holland, que usava um boné com a bandeira americana e chegou na sexta-feira da Carolina do Norte só para assistir ao funeral com os filhos.
Dona Lin Soto Osuna veio de Porto Rico para a canonização de Carlo Acutis — que acabou sendo adiada — e decidiu ficar para o funeral. Ela chorava emocionada levantando uma bandeira porto-riquenha na Praça de São Pedro enquanto assistia à missa.
– Nos sentimos tristes e alegres. Tristes pelo falecimento do Papa, mas alegres porque há esperança na Igreja – contou Dona. – Nos identificávamos com ele porque todos somos da América Latina.
Um grupo de jovens portugueses que veio para o Jubileu também acompanhava sob o sol quente a celebração.
– Esta celebração é muito importante. Me sinto privilegiada por estar aqui – disse Maria Nobre.
Do outro lado da rua de paralelepípedos que acompanha as colunas que circundam a Praça São Pedro fica uma lojinha de souvenirs religiosos que existe desde 1898. No sábado da despedida, a lojista Cristina Palotino, contou que nas últimas semanas e, principalmente, dias, o movimento foi impressionante. A loja permaneceu todo o tempo lotada de gente em busca, sobretudo, de rosários e ímãs de geladeira.
— Eu sempre via o Papa se dirigir aos fiéis, escutava ele falar — disse Cristina — Ele era um grande homem. Ele amava todas as pessoas, religiosas ou não.
A equatoriana Maria Neli Ante chegou na Praça de São Pedro às 5h30m para acompanhar a missa do funeral do Papa Francisco. Minutos antes da cerimônia começar, ela rezava em meio à multidão que se espremia contra a grade que separava os que conseguiram entrar na Praça de São Pedro e os que ficaram do lado de fora – mas ainda muito perto.
– Vim porque queria estar perto do Papa, acompanhá-lo na despedida – contou ao GLOBO Maria Neli, que mora em Roma. – É muito emocionante ver tanta gente chegar, o amor imenso que as pessoas têm pelo Papa, tanta gente, e impressiona também porque há muitos jovens.
A cerimônia durou uma hora e meia e contou com a participação de 224 cardeais e 750 bispos e padres. O caixão de madeira e zinco, lacrado na noite de sexta-feira, foi levado para a praça em frente ao altar.
O cardeal Decano Giovanni Battista Re, que celebrou a homilia fúnebre, lembrou que o Papa fez "incontáveis" esforços a favor dos migrantes e refugiados. Com o presidente Donald Trump sentado a poucos metros de distância, o cardeal relembrou a viagem do falecido Papa à fronteira entre o México e os Estados Unidos, um de seus muitos "gestos e exortações em favor dos refugiados e deslocados", quando Francisco falou da necessidade de "construir pontes, não muros".
— Ele foi um Papa do povo, com o coração aberto a todos — disse, ao lado do caixão de Francisco, na escadaria da Praça de São Pedro. — Ele também foi um Papa atento aos sinais do tempo e ao que o Espírito Santo estava despertando na Igreja.
O público na Praça de São Pedro, no Vaticano, recebeu as palavras do cardeal com aplausos.
Assistiram à missa de despedida do Papa Francisco 50 chefes de Estado eleitos, como o brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva e o americano Donald Trump, e 10 monarcas. Outras 130 delegações estrangeiras estiveram presentes.
O Globo
