O cardeal italiano Giovanni Angelo Becciu decidiu renunciar da participação no conclave, processo secreto que decidirá o próximo papa, devido ao escândalo de fraude, informou o portal de notícias italiano TGCOM 24 nesta segunda-feira, 28, com base em fontes do Vaticano. O religioso, que chegou a ser cotado para substituir Francisco, foi afastado da Igreja Católica em 2020 após ser acusado de comprar um edifício de luxo em Londres com o dinheiro de fiéis. Três anos mais tarde, ele foi condenado pelo crime.
Na semana passada, Becciu afirmou que participaria da votação por supostamente ter sido perdoado pelo papa Francisco, que faleceu na última segunda-feira, 21. Ele, no entanto, não estava listado como eleitor por Santa Fé, embora tenha 76 anos — apenas os cardeais com menos de 80 anos têm direito a votar e se reunirão na Capela Sistina de Michelangelo nos próximos dias para o conclave, nome dado à assembleia que vai eleger o próximo líder do catolicismo.
Entenda o caso
O caso pelo qual foi condenado envolveu a compra de um edifício de luxo em Londres, adquirida em parte com dinheiro doado pelos fiéis ao fundo de São Pedro, destinado aos pobres. Isso deixou um rombo de 139 milhões de euros (quase R$ 900 milhões, na cotação atual) nas finanças do Vaticano. Ele se tornou o primeiro cardeal a ser sentenciado por um tribunal criminal da Santa Sé.
Becciu sempre alegou inocência e entrou com um recurso que ainda está em análise. Ele está autorizado a continuar morando em um apartamento no Vaticano enquanto o processo estiver em andamento, e responde em liberdade embora tenha recebido pena de cinco anos de prisão. A investigação levou, em paralelo, à renúncia do chefe de segurança do Vaticano, à remoção de vários funcionários financeiros do Vaticano e à prisão em junho de 2020 de um banqueiro italiano que atuou como intermediário da Santa Sé na transação imobiliária.
Antes mesmo do início do julgamento, o papa Francisco demitiu Becciu do cargo de líder do departamento do Vaticano para a canonização de santos. O pontífice também ordenou que renunciasse aos “direitos e privilégios” de cardeal, ainda que isso nunca tenha ocorrido. Foi um golpe duro para o religioso, que passou anos supervisionando, na Secretaria de Estado, os embaixadores do Vaticano e desempenhava um papel importante na administração da cúria, tendo acesso irrestrito ao pontífice.