A derrota do Real Madrid para o Barcelona por 4 a 3, neste domingo, 11, praticamente confirmou o título de La Liga para o clube catalão e deu sinal verde para que a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) confirmasse a contratação de Carlo Ancelotti como técnico da seleção brasileira.
O comunicado oficial, feito nesta segunda-feira, 12, de forma repentina e sem glamour, ocorreu porque Ednaldo Rodrigues, presidente da CBF, ainda teme ser afastado do cargo pela Justiça devido às denúncias que enfrenta. Os espanhóis foram previamente informados sobre o anúncio — o clube espanhol ainda não oficializou a saída do técnico italiano. Internamente na confederação, há também a percepção de que a nomeação de um treinador com o currículo de Carlo Ancelotti pode ajudar a reduzir a pressão externa sobre a entidade.
Segundo apuração da coluna, o “sim” do italiano foi dado no fim da semana passada. Um pouco antes, em uma reunião realizada no dia 30 de abril, em Madri, Ancelotti e o presidente do Real Madrid, Florentino Pérez, acertaram a saída do treinador um ano antes do término do contrato.
Só então o técnico aceitou formalmente o convite da CBF, ainda assim pedindo cautela quanto à revelação. Afinal, o clube merengue ainda mantinha chances reais de conquistar o título espanhol, o único possível na temporada. A derrota para o arquirrival reduziu essa possibilidade a quase zero.
A novela envolvendo a contratação de Ancelotti se arrastou por mais de dois anos, marcada por duas negativas ao longo do caminho. Em 2023, o treinador optou por renovar com o Real Madrid. Já há algumas semanas, recusou-se a assinar o vínculo com a CBF, incomodado com vazamentos de informações e com a presença de intermediários no processo de negociação.
Dois movimentos foram decisivos para a concretização do acordo: primeiro, Ancelotti ouviu do Real Madrid que o clube seguiria com um novo treinador — Xabi Alonso, atualmente no Bayer Leverkusen, da Alemanha. Em segundo lugar, o presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues, afastou das negociações todas as pessoas sem ligação direta com a entidade.
Ancelotti decidiu, então, que só trataria diretamente com Ednaldo. Dois advogados contratados pela CBF ficaram responsáveis por procurá-lo e formalizar toda a proposta — incluindo salário, tempo do acordo, bônus por títulos, gatilhos de renovação e os benefícios que terá no Brasil. Tudo sem intermediários, como exigido pelo italiano.
Ambiente político da CBF pesou para anúncio de Ancelotti nesta segunda
O anúncio aconteceu em meio a uma turbulência política vivida por Ednaldo Rodrigues. E chegou em um timing que pode ser decisivo para o cartola. A aposta de aliados é que agora o foco pode mudar e que as pessoas vão se interessar mais em saber quando Ancelotti fará sua convocação e quais nomes estarão na lista.
Uma das polêmicas mais recentes envolve a acusação de falsificação da assinatura de Antonio Carlos Nunes, o Coronel Nunes, ex-presidente da CBF, em um acordo homologado no Supremo Tribunal Federal (STF). O caso agitou os bastidores da entidade nos últimos dias.
Esse documento, validado no STF, garantiu a continuidade do mandato de Ednaldo, após seu afastamento entre dezembro de 2023 e janeiro de 2024, por decisão do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, motivada por questionamentos ao processo eleitoral da confederação. Embora tenha rejeitado novos pedidos de afastamento, o ministro Gilmar Mendes determinou que o TJ-RJ investigue a suspeita de falsificação.
A avaliação interna é de que a ausência de um treinador à frente da seleção brasileira contribuiu para a intensificação dessas denúncias. E que, agora, com a definição de Ancelotti, essa pressão possa arrefecer.
Marcel Rizzo - Estadão
