O Blog vai entrevistar 10 candidatos a prefeito de Natal, vamos começar com o senador Jean-Paul Prates (PT).
O que pretende fazer em relação à saúde de Natal?
A Saúde é uma das muitas áreas em que a gente percebe o desgoverno e a desorganização na Prefeitura da cidade. Conversando com as pessoas em algumas comunidades e bairros, recebi muitas reclamações de quem cai nos chamados “vazios assistenciais” porque vivem em áreas sem equipamentos e cobertura de atendimento nos sistema da ESF (estratégia de saúde da família). Mesmo com tantos anos de funcionamento do SUS, uma cidade como Natal ainda não consegue atender a toda a sua população com um mínimo de qualidade e conforto. Nós reconhecemos que os recursos públicos são limitados, mas a pandemia tornou ainda mais evidente a importância de termos um Sistema Único de Saúde confiável, e as prefeituras têm um papel fundamental nisso. Para começar a resolver o problema, pretendo integrar os cadastros médicos e prontuários existentes em um único sistema de armazenamento com terminais remotos (tablets) e aplicativo que viabilizarão o conceito de “Saúde 4.0” em Natal. Quem chegar a um hospital devido a uma urgência, por exemplo, vai poder ter um atendimento mais eficiente, porque o seu prontuário já vai estar disponível para o médico, que vai saber imediatamente, por exemplo, se a pessoa é alérgica a algum medicamento ou se possui uma doença crônica. Não é tecnologia de outro mundo, mas um investimento relativamente baixo que, no entanto, vai permitir segurança e transparência ao gasto público e atendimento qualificado ao cidadão. Em várias áreas, como a de saúde, a gente pode buscar soluções como essa, que aliam tecnologia e ferramentas de gestão sem gastos muito significativos. Essa medida converge com outras do nosso programa, que buscam facilitar a vida das pessoas unificando direitos numa espécie de “cartão cidadão”, com o qual ele possa ter acesso à maior parte dos serviços municipais. A ideia é que, em um prazo muito curto, esse tipo de ferramenta permita, por exemplo, que a pessoa possa até agendar consultas pela internet, de modo facilitado, sem precisar se deslocar para uma unidade de saúde.
Quais suas propostas em relação ao Plano Diretor?
De partida, minha primeira proposta de campanha em relação ao Plano Diretor é que o próximo Prefeito tem o dever e o direito de participar da elaboração dessa proposta. Depois de tantos atrasos já consolidados, não há como aprovar um documento importante como esse no apagar das luzes de um mandato de prefeito e da legislatura dos atuais vereadores. Com o advento da pandemia, até a participação popular ficou dificultada. Aprovar o Plano Diretor agora, com inúmeras reuniões realizadas sem o acompanhamento dos cidadãos e dúvidas acerca da representatividade dos participantes dos conselhos seria uma temeridade. Natal já passou por isso antes e não foi uma boa experiência: resultou em caso de polícia, ao invés de política. A cautela não é exagerada, é experiência.
Na discussão do Plano Diretor, reconhecemos a necessidade do adensamento populacional nas áreas adequadas, mas isso deve ser feito de forma a garantir a qualidade de vida para as gerações futuras e com integração ao planejamento urbano e metropolitano de mobilidade, infraestrutura e serviços públicos. A elevação do gabarito para construção de prédios e o adensamento de determinadas áreas precisa conciliar potencial econômico com a preservação de um ambiente urbano saudável e sustentável. Engenharia de tráfego também é relevante ao planejar a implantação desses novos adensamentos. Eu compreendo a importância de se estimular a economia pela construção civil, e também a de se reduzir o déficit habitacional, mas a escolha errada de onde esse adensamento vai acontecer pode prejudicar a vida das pessoas e deteriorar desnecessariamente alguns dos nossos principais cartões postais. Por isso, a participação da sociedade e a discussão racional de um plano diretor é muito importante. Reconhecer a centralidade da periferia neste processo de novas fronteiras habitacionais e comerciais é essencial. Conciliar a recuperação dos vazios habitacionais de bairros da Zona Leste com a preservação e revitalização dos nossos atrativos naturais, também.
Como o senhor enxerga a educação da capital?
Os indicadores do Ideb não vão bem, e a situação tende a se agravar com a crise econômica. A redução na oferta de expediente integral nas creches prejudica a vida das famílias mais pobres, e também dos alunos mais velhos que precisam sair mais cedo da escola pra cuidar dos seus irmãos pequenos enquanto os pais trabalham. Por outro lado, o enfraquecimento da Educação de Jovens e Adultos (EJA) e a volta do crescimento do analfabetismo contradizem a cidade que protagonizou o projeto “De Pé No Chão Também se Aprende a Ler”, de Djalma Maranhão. A rede, como um todo, precisa melhorar, mas percebo que, no atual momento da cidade, essas duas pontas - os mais novinhos e os mais velhos - precisam de uma maior atenção por parte da prefeitura. E eu pretendo dar essa atenção. Vamos ampliar o número de vagas e creches e garantir que o EJA volte a ser um programa capaz de resgatar as pessoas para o mundo do trabalho. Por que em breve nós vamos estar vivenciando essa situação de retomada da economia após a pandemia. É necessária uma qualificação cada vez maior para os empregos de hoje, e pessoas que não têm um mínimo de base escolar tendem a ficar mais tempo desempregadas ou sem capacidade de empreender. Não queremos isso para o natalense.
O que vai fazer com a orla urbana?
A entrevista que o atual prefeito deu, recentemente, culpando os usuários pelo descaso público com a orla urbana, é o tipo de coisa que explica bem a situação em que estamos. Culpar o turista e o morador de Natal pelos ratos de Ponta Negra é bem grave. A sujeira e a insegurança prejudicam aquela que naturalmente é a orla mais bela do país. Cuidar disso é atribuição da prefeitura e quando o próprio prefeito responsabiliza os usuários pelo caos ele está fugindo de suas responsabilidades como administrador. Acredito que nosso foco nesse ponto tem que ter duas dimensões: a primeira é a de requalificar a orla urbana atual, nos núcleos vinculados a Ponta Negra e na Praia do Meio, que precisam de maior suporte para dar conforto e segurança ao visitante, ao turista e ao morador. Precisamos de melhor coleta de lixo, e maior suporte para ambulantes ou pequenos empreendedores, que não podem se manter na situação atual. Essa bagunça permitida pela prefeitura acaba afastando o banhista. É preciso lembrar também que temos um grande oásis a ser aproveitado, que é o espaço da Via Costeira. Tenho conversado com a Governadora Fátima sobre novos usos para aquela região, mas para isso é preciso facilitar o transporte público, restabelecer os acessos à praia e melhorar a segurança, além de permitir o estabelecimento de novos empreendimentos e atividades. Aquela área imensa não pode ser privilégio apenas de quem frequenta os hotéis. Precisa servir à toda a cidade também.
Como pretende trabalhar o turismo?
Muito se fala sobre promoção da cidade no exterior, participação em eventos de turismo, etc Eu entendo e acho que essas medidas são importantes, mas não podem acontecer sem que a cidade, turística por natureza e tradição, seja organizada de forma a receber os turistas com eficiência e atratividade. Natal precisa arrumar a casa, para garantir que o turista venha, saia positivamente impressionado e fale bem de nós. Apesar de termos uma infraestrutura hoteleira robusta, precisamos aprimorar a capacitação da mão de obra e fomentar investimentos em atrações culturais e históricas da cidade, para que o turista não tenha Natal apenas como um ponto de passagem entre o Aeroporto e os litorais norte e sul. Precisamos diversificar o turismo também, mas isso será construído oportunamente, mandato adentro. Natal tem um enorme potencial a ser explorado, e tenho a certeza de que só não expandimos ainda mais este setor por falta de organização e capacidade de gestão. Nós vamos assumir a Prefeitura de Natal com o compromisso de transformar a nossa cidade na melhor cidade para se morar, e para receber quem nos visita ou decide viver aqui.
