Aquela coisa lindinha e sorridente cresceu, já não toma sorvete com o avô, pouco convívio em Natal, mas é época do veraneio, agora a família toda junta e misturada.
Seu filho sempre reclama dos gastos com ela, é academia, iPhone, roupas de marcas, viagens pelo mundo, mas na hora do réveillon, em plena meia noite, a menina solta dois gritos de guerra:
1- Lula Livre!
2- Marielle vive!
Foi um silêncio, os tios, os avós, os primos, todos em silêncio, apenas o netinho que levou o namorado para sua casa aplaudiu. Achou o máximo o a irreverência da prima.
A família estava com mais de uma corrente política, avô ultra-conservador, viu a esposa nua pela primeira vez na lua de mel, engravidou a “veia” na primeira vez. Agora tinha uma ativista política em casa de esquerda e um neto com namorado. Além da filha única (tem mais dois filhos) sustentando o marido.
A festa de réveillon perdeu a graça, o velho ficou arrasado. Na cama, antes de dormir, foi lamentar com a esposa. Culpou o filho por não ter pulso, a nora por “não educar direito”.
A neta fez ENEM, mesmo com uma nota suficiente no Sisu (o resultado saiu em janeiro durante o veraneio) para estudar medicina na UFRN resolveu fazer a faculdade de história. O avô teve que ser atendido na emergência do Hospital São Lucas, teve uma crise hipertensiva. Não é fácil.