Existia um desencontro entre eles. Apesar de viverem no mesmo condomínio, o mesmo círculo de pessoas, eles nunca haviam se esbarrado. Nunca tinham se visto pessoalmente, mas se conheciam. Existia uma admiração bem íntima de ambos que desaguava em uma implicância mútua inexplicável.

Para ele, morador do Villa Imperial, ela era brega e falava estranho como se estivesse fazendo sempre um discurso. Mas, ela tinha uma cara de quem gostava de ser jogada na parede e chamada de lagartixa que o enlouquecia. Para ela, moradora do Villa Colonial, ele era irritante demais e, ainda por cima, mesmo tendo um jeito refinado, era um vagabundo esperto. 

E assim foram vivendo durante vários veraneios. Sem qualquer necessidade de convivência. Até que um dia. Ah, até que um dia eles se encontraram na piscina do Villa Real. Mergulharam e ali foi inevitável a troca de olhares e das primeiras palavras. Uau!! Foi como a explosão de uma bomba atômica.

Os dois foram eletrocutados pela vontade e um desejo que tomou conta de ambos. Desejo de que, naquele momento, todo mundo desaparecesse e só os dois ficassem sozinhos no pedacinho do paraíso do RN. Seus corpos, suas mãos, suas línguas. Mas tudo ficou só na imaginação.

Até que em um dia de verão de 2022, um tão singelo dia de verão, ele decide curtir umas daquelas fotos bregas que ela costumava postar no Instagram. E daí, fogooooo de novo!! Mas dessa vez estavam só os dois na rede social. Naquele ambiente digital e protegido de qualquer olhar estranho. Tudo ficou tão quente que ela já o chamou para uma visita despretensiosa no Villa Colonial. Como assim despretensiosa?? Ela imaginava e queria que tudooo acontecesse como ela tinha imaginado naquele dia da piscina.

Colocou seu buquini e canga da Salinas e com os pés descalços foi recebê-lo na porta. Queria partir para ação!! Deixou até dois copos Stanley prontos para beber uma cerveja, seu marido estava trabalhando. Assim que ele entrou, os dois já se pegaram e começaram a se beijar e se tocar em uma sequência inimaginável. Ali, naquela sala com a brisa de Pirangi (isso foi poético porque o Villa Colonial é muito quente), naquele sofá o olhar dos dois bateu no pequeno lavabo da sala. E foi ali, naquele chão que tudo aconteceu.

Ele sentado, as calças no chão e ela, com a calcinha arrancada por ele no dente, se deliciaram naquele breve e, incrivelmente, longo momento de prazer. Do lado de fora, o calor de uma típica noite de temperaturas altas. Do lado de dentro, o fogo era outro e queimava os amantes comprometidos naquela noite única no Porto Brasil. Mas, sem direito a reprise. 

No dia seguinte, se cruzaram na piscina do Villa Imperial, ela a dama e ele o vagabundo, nem se falaram. 

*Isso é ficção, os personagens não existem! Mas pode ser verdade.