O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) responsabilizou nesta sexta-feira (18) Jair Bolsonaro e apoiadores "raivosos" do atual presidente para a utilização do jato de um amigo para viagem ao exterior.
Em Lisboa, Lula disse que "um presidente responsável teria oferecido avião da FAB" para ele ir à COP27, no Egito, de forma que não precisasse utilizar a aeronave de um empresário.
O petista afirmou ainda que um "presidente eleito precisa cuidar da segurança" diante de "bolsonaristas raivosos se espalhando mundo afora".
Lula viajou na última segunda (14) à COP27, em Sharm el-Sheikh, no jato do empresário José Seripieri Filho, conhecido como Júnior, fundador da Qualicorp e dono da QSaúde.
Ele deixou a conferência da ONU sobre mudanças climáticas no Egito e seguiu para Portugal no mesmo jato, sem ter comentado nesse período a utilização da aeronave, alvo de questionamentos da oposição a Lula no Brasil.
Uma entrevista coletiva de Lula chegou a ser agendada para quinta-feira (17) no Egito, mas foi cancelada em cima da hora. Segundo a assessoria, a coletiva foi cancelada porque a agenda estava toda atrasada.
Aliados de Lula reconheceram desgaste com favores de empresários aceitos pelo petista após as eleições, mas saíram em defesa do presidente eleito sob a alegação de que não há desvio ético nem ilegalidade jurídica.
O constrangimento é exposto pela necessidade de ter que dar explicações públicas e pelas críticas de opositores, embora auxiliares de Lula digam ser uma "crise artificial".
Como revelou a coluna Mônica Bergamo, da Folha, a aeronave em que viajou Lula é do modelo Gulfstream, com capacidade para transportar 12 pessoas e autonomia para voar direto ao Egito.
Lula e Seripieri são amigos há cerca de dez anos. Durante a campanha eleitoral deste ano, o empresário foi um dos primeiros com quem o petista concordou em se reunir para tratar de suas propostas de governo.
O empresário firmou acordo de delação com o Ministério Público em 2020 e confessou o crime eleitoral de caixa dois em um caso envolvendo o senador tucano José Serra (SP).
Seripieri Filho ficou preso por três dias em julho de 2020 em decorrência da Operação Paralelo 23, que investigou pagamentos para a campanha de Serra ao Senado em 2014.
Ele se tornou réu acusado de corrupção, lavagem e caixa dois na Justiça Eleitoral de São Paulo. O senador também responde ao processo. A investigação ocorreu no âmbito de um conjunto de inquéritos apelidado de "Lava Jato Eleitoral", por envolver desdobramentos de delações enviados a esse braço do Judiciário.
No fim de 2020, o ministro do Supremo Tribunal Federal Luís Roberto Barroso homologou acordo de colaboração de Seripieri firmado com a Procuradoria-Geral da República. O compromisso previa o pagamento de R$ 200 milhões pelo empresário como ressarcimento aos cofres públicos.
Os termos do acordo, assim como detalhes dos depoimentos, permanecem sigilosos até hoje.
Folha de São Paulo