‘Inimigos do povo’: a estratégia stalinista para salvar o governo Lula da crise
Hoje as tentativas de intimidação não funcionam mais, pelo simples motivo de que a sociedade já entendeu como funciona o petismo e seus associados
As votações perdulárias do Congresso não têm sido nada edificantes. Mas a estratégia de combater o Parlamento, hoje em franca oposição ao governo federal, consegue baixar ainda mais o nível da luta política. Resolveram ressuscitar o conceito stalinista de “inimigo do povo” para tentar acuar os parlamentares que votam contra as propostas oficiais. Virou até hashtag nas redes. Em um momento de baixa popularidade do governo, a estratégia não vai dar certo.
Aparentemente, o PT e seus satélites voltaram a 2006, a 2010, a 2014, quando intimidavam os pobres tucanos como políticos que tinham horror aos pobres — a despeito de a então oposição ter começado a implantar os mecanismos de proteção social aproveitados na gestão Lula (que, claro, mudou o nome dos programas para poder ampliar os ganhos políticos). Mas os tucanos eram os “fascistas” do momento.
Hoje, entretanto, as tentativas de intimidação não funcionam mais. Pelo simples motivo de que a sociedade já entendeu como funciona o petismo e seus associados. Tentam colocar quem está contra eles como um mal para a sociedade. Deu certo por um tempo, mas o modelo se esgotou. O PT ainda não percebeu que houve uma virada de chave. Eles próprios são considerados o atraso por parcela considerável da população. Recheados de emendas e, em muitos casos, eleitos em Estados hostis ao petismo, a maioria desses deputados e senadores alvo não deve estar nem aí para a razia pró-governo, ao contrário. Sem falar que, numa democracia, um governo federal em guerra com o Congresso - com a função institucional de ratificar suas decisões- é a antessala do caos.
O termo “inimigo do povo” vem da história antiga. Mas ficou célebre mesmo quando foi utilizado contra León Trotsky, antigo companheiro de Stálin na revolução russa. Trotsky, inclusive, foi assassinado a mando do ex-amigo, no período de exílio do México. Escritores, artistas, que não seguiam a linha oficial do realismo soviético também eram considerados inimigos do povo, que exemplo excelente para o petismo utilizar em 2025. (isso é uma ironia).
Lula foi reeleito em 2022 com o discurso da frente ampla pela democracia ameaçada por Jair Bolsonaro. Bastaram aparecer as dificuldades efetivas para agirem exatamente como dizem fazer seus inimigos políticos: apelando para técnicas totalitárias de coerção. Vão fracassar nesta também. Estamos em um país diferente.
Fabiano Lana - Estadão