Filha com coronavírus
A vida é cheia de batalhas e sorrisos. As vezes levantamos o tom na pele de lobo mau e outras vezes viramos um cordeirinho. Hoje, logo cedo, Heloísa, mãe da minha filha, ligou para dizer que Lissa estava com sintomas de coronavírus. Heloísa e o noivo começaram no sábado com sintomas, positivaram, e agora Lissa estava com dor de garganta e febre. Eu fiquei desesperado, o chão abriu, o mundo rodou e um não tinha um porto seguro. Liguei para a pediatra de Lissa, Rachel Fonseca, que é minha prima, acho que ela deve ter me achado mais doente Lissa. Foi um telefonema tranquilizador, ela passou a medicação, disse os cuidados, o que deveria ser feito. Meu coração estava disparado. Depois liguei para Lana, que é pediatra de bebês, que falou a mesma coisa e me tranquilizou mais ainda.
Fui comprar a medicação e ia deixar na portaria do prédio de Lissa. Não me contive, subi, de longe, depois que olhei para ela, meu coração ficou mais contido. Estava com mesmo humor, ela disse que queria um beijo, mas sabia que não podia. Foi devastador o medo, a preocupação, aflição pelo desconhecido.
O meu filho mais velho Ricardo já teve suspeita de coronavírus logo no início, mas estávamos juntos, foi mais tranquilo. Estou agora em contagem regressiva para que chegue segunda-feira, passe o ciclo dos dias, até lá carregarei uma angústia sem fim.
Independente do resultado final, que tenho certeza que será positivo, entendo os desafios da vida. Tem horas que temos que lutar com todas as forças, momentos que temos que esperar, outros fatos a gente só faz assistir, mas nunca podemos nos acovardar. Ainda tentei trazer Lissa para passar esses dias comigo, mas Heloísa quis ficar com ela, reconheço que será mais bem cuidada pela mãe.
Eu vou ficar com o coração pequeno, angustiado e doido que tudo passe. Depois ainda terei que enfrentar o meu coronavírus, mesmo com as comorbidades (diabético e hipertenso), entendo que isso também faz parte da vida, posso escapar ou ficar no meio do caminho. Só não vou nunca me acovardar com o “fique em casa”, tenho que ganhar o pão e repassar para milhares de ouvintes, telespectadores e leitores as notícias de um estado dominado. Se preciso for eu mordo um leão faminto dentro de sua jaula.
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