Pesquisa divulgada pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) mostra que 8,7% dos adolescentes de 14 a 17 anos relataram ter usado cigarros eletrônicos no último ano. O percentual é bem maior que o dos jovens que afirmaram fumar cigarro convencional (1,7%) e também maior que o dos adultos que disseram usar vape (5,4%).
Com dados de 2022 a 2024, o Terceiro Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (Lenad III) foi feito pela Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas (Uniad) da Unifesp em parceria com a Ipsos, com financiamento pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública. É a primeira vez que cigarros eletrônicos entram no levantamento.
O levantamento ouviu 16.608 pessoas de 14 anos ou mais, de todas as regiões do país. Os participantes receberam a opção de serem encaminhados para tratamento no Hospital São Paulo e no Centro de Atenção Integral em Saúde Mental (CAISM) da Unifesp.
A pesquisa mostrou que o uso de cigarros eletrônicos entre meninas (9,8%) é maior que entre meninos (7,7%) e chama a atenção para uma mudança na tendência de queda do consumo de nicotina em geral.
"Tivemos uma história maravilhosa de sucesso de políticas públicas, que geraram uma queda vertiginosa no tabagismo, mas esse novo desafio [cigarros eletrônicos] quebrou completamente essa trajetória", disse Clarice Madruga, professora de psiquiatria na Unifesp e coordenadora do levantamento, durante videoconferência para o lançamento da pesquisa.
"Hoje a gente tem um índice de consumo invisível, principalmente entre os adolescentes. Agora é que a gente começa a explorar esses dados", acrescentou.
Para a pesquisadora, "fica óbvia a emergência de investigar, entender e se precaver desse fenômeno". A proibição, ela diz, "não está bastando", já que 53,3% dos adolescentes disseram ter fácil acesso aos vapes.
Desde 2009 a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) proíbe a importação, a comercialização e a publicidade dos chamados DEFs (Dispositivos Eletrônicos para Fumar). Em 2024 a agência decidiu manter a proibição e considerou que não há dados que apontem benefícios com uma eventual regularização do produto.
"A gente sabe que essa é a realidade, principalmente nas grandes cidades. O controle é ruim, principalmente na venda por canais digitais. Esse é o grande desafio", disse Clarice Madruga.
A pesquisa também mostra que os dispositivos eletrônicos não auxiliaram na diminuição do uso de tabaco tradicional, o que é uma promessa da indústria. Cerca de 78% dos usuários gerais que fazem uso dual (ambas as modalidades) não reduziram o consumo do cigarro. Só 8,9% abandonaram o tradicional.
À Folha o Ministério da Justiça disse que a Senad (Secretaria Nacional de Política sobre Drogas e Gestão de Ativos), junto à Senacon (Secretaria Nacional do Consumidor), vai trabalhar de forma urgente para retirar os produtos ilegais de lojas online.
Folha de São Paulo