Editorial O Globo: Lula enfrenta pressão de aliados com invasões do MST e greve universitária

17/04/2024 às 09:29


Não bastassem a queda na popularidade e os desafios econômicos, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva enfrenta pressão de sua própria br de apoio. Depois de ficar numa espécie de hibernação ao longo dos quatro anos do governo Jair Bolsonaro, o MST acaba de deflagrar, pelo segundo ano consecutivo, sua agenda de invasões conhecida como “Abril vermelho”. Ao mesmo tempo, professores de universidades, institutos e centros de ensino técnico federais — outro bastião histórico do PT — aderiram a uma greve nacional por aumentos salariais. Tanto os sem-terra quanto os professores acreditam que a oportunidade de sucesso é maior porque Lula está no poder.

O MST informou ter invadido na semana passada 24 propriedades, entre elas uma área de pesquisa da Embrapa, já ocupada no ano passado. É um contrassenso prejudicar o trabalho do laboratório público, maior responsável pelo avanço do agronegócio e da agricultura familiar. Na segunda-feira, Lula reagiu. Lançou o programa Terra da Gente, para “ampliar e dar celeridade ao acesso à terra”. “É uma forma nova de a gente enfrentar um velho problema. Isso não invalida a luta pela reforma agrária, mas queremos mostrar ao Brasil o que pudemos utilizar sem muita briga, isso sem querer pedir para alguém deixar de brigar”, afirmou numa tentativa de equilibrar interesses.

Ao mesmo tempo que agrada aos antigo aliados do MST, Lula precisa do apoio da bancada ruralista no Congresso para aprovar seus projetos. Estão previstos churrascos na Granja do Torto com produtores rurais, viagens a estados em que o agronegócio tem peso e visitas a obras do PAC em áreas de produção agrícola. Esses gestos têm grande importância para um governo com dificuldades de conviver com um Congresso conservador.

A greve dos professores das instituições federais foi deflagrada uma semana depois de a ministra da Gestão, Esther Dweck, e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, terem decidido que neste ano não haverá aumento para servidores públicos. Dweck adiantou apenas que está em estudos reajuste de mais de 19% até 2026, quando acaba o mandato de Lula.

Os professores reivindicam aumento de 22%, dividido em três parcelas anuais. Também fazem uma exigência clássica do sindicalismo no setor público: a equiparação de benefícios e auxílios com os servidores do Legislativo e do Judiciário. É na busca por equiparações entre categorias diversas que o funcionalismo escala para níveis salariais acima do razoável e dos praticados no setor privado.

A greve dos professores universitários ocorre no momento em que o governo anuncia o afrouxamento de sua política fiscal, um estímulo evidente a reivindicações de toda sorte, de olho nos novos gastos. Das invasões de terra e da greve de docentes de instituições federais de ensino, restam mais dificuldades para o Planalto se aproximar do agronegócio, como deseja, prejuízos aos estudantes e à própria imagem dos professores e das universidades, já deteriorada diante da sociedade.

Editorial - O Globo

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