O recuo na medida de IOF sobre investimentos de fundos no exterior representa um forte abalo para a reputação da equipe econômica. Se por um lado é melhor reconhecer o erro e voltar atrás rapidamente, por outro, fica a impressão de improviso e, pior, de que os técnicos da pasta não foram capazes de antever o que vinha pela frente.
O episódio revela pelo menos três erros. Primeiro, o da medida em si, que foi vista como uma forma de controle de capitais. Segundo, a incapacidade de a Fazenda não perceber a reação negativa. Terceiro, as falhas de comunicação com a proposta, que incluíram disse me disse envolvendo o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo.
A Fazenda tem adotado a estratégia de não adiantar medidas em estudo, o que é louvável do ponto de vista ético. O problema é que isso impede, também, que as ideias circulem antecipadamente e sejam testadas entre analistas. Isso pode evitar problemas maiores, como este, do IOF.
Elaborar propostas com técnicos fechados a quatro paredes tem esse risco implícito, que pode sair mais caro do que um vazamento que possa levar a especulações no mercado financeiro. É um caminho que a pasta terá que reavaliar para novas medidas.
Haddad disse que decretos presidenciais não têm que passar pela aprovação do Banco Central, o que é verdade. Mas também é fato que não faz sentido alterar uma norma que tem impacto direto na política monetária sem que a principal autoridade do assunto tenha conhecimento do que se trata. Uma simples consulta ao BC poderia ter evitado esse caso.
Tudo isso ofusca o ganho do Relatório Bimestral de Receitas e Despesas, que veio com uma contenção de recursos de R$ 31 bilhões, muito acima do esperado. A medida representava um renascimento dos ministros Fernando Haddad e Simone Tebet, do ponto de vista da credibilidade na condução da política fiscal.
Agora, com a trapalhada do IOF, as duas pastas voltam a ficar na berlinda com o mercado financeiro, além de terem dado munição para críticas da oposição ao presidente Lula.
Alvaro Gribel - Estadão