Você acorda no mesmo horário nos dias úteis, mas aproveita para dormir todo o sono acumulado nos finais de semana? Se isso é um hábito e o tempo extra na cama passar de uma hora do horário habitual de despertar, é bom tomar cuidado. Esse descompasso no padrão de sono tem nome e pode trazer prejuízos à saúde: é o jetlag social, condição que, segundo um novo estudo do Instituto do Sono, afeta 70% dos paulistanos e tem se tornado crescente em grandes cidades.
O termo jetlag é conhecido pelos viajantes que se deparam com fusos horários diferentes e enfrentam a desorganização do sono e demais atividades por impactos no ritmo circadiano — ou relógio biológico –. No caso do jetlag social, as flutuações ocorrem entre os dias úteis, quando as atividades profissionais e tarefas domésticas não permitem dormir até mais tarde, e o fim de semana, cujo padrão pode ser desligar o despertador e não ter hora para acordar.
Essa condição também afeta trabalhadores por turnos e profissionais com trabalhos com escalas irregulares, como seguranças e enfermeiros.
A pesquisa, compartilhada com VEJA com exclusividade e parte dos painéis do Sleep 2025 (congresso mundial de Medicina do Sono realizado nos Estados Unidos nesta semana), avaliou o comportamento do sono de moradores da cidade de São Paulo a partir da comparação de dados de 1.042 participantes da 3ª edição do estudo Episono, de 2007, com informações coletadas de 689 deles no ano de 2015.
No período, o jetlag social moderado, mudanças no padrão de sono entre 1 hora e duas horas, saltou de 24% para 30% e foi constatado que sete em cada dez moradores tinham alguma alteração nos horários de sono nos dias úteis e livres.
No nível mais grave da condição, que considera alterações no sono acima de duas horas, foi demonstrado que, por ano, nove em cada 1 000 participantes passaram para esse nível. Embora a prevalência tenha caído de 14% para 10%, isso é preocupante e significa que, em uma população de 12 milhões de habitantes da cidade, foram 108 mil novos casos anuais de jetlag social grave.
“Manter um sono de duração adequada é importante para manutenção da saúde. Quando uma pessoa tem restrição de sono durante a semana, o sono compensatório durante os dias livres é benéfico, mas não deve ultrapassar uma a duas horas do habitual durante a semana”, explica Julia Vallim, pesquisadora do Instituto do Sono e uma das autoras do estudo.
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