A CBF tem um novo presidente, Samir Xaud, eleito com a promessa de não centralizar decisões como o seu antecessor, Ednaldo Rodrigues. Embora Xaud tenha a caneta na mão, o poder será compartilhado com integrantes do grupo que articulou sua chegada ao cargo.
Os dois principais ativos da Confederação Brasileira de Futebol, os campeonatos nacionais e a seleção brasileira, serão geridos de forma separada. Xaud, com o apoio de Gustavo Feijó, de Alagoas, será o responsável pela seleção. Já as competições ficarão sob a responsabilidade do advogado Flávio Zveiter, ex-presidente do STJD e vice-presidente eleito na chapa vitoriosa neste domingo, dia 25.
Zveiter tentou viabilizar sua candidatura à presidente da CBF no início de 2024, durante o primeiro afastamento de Ednaldo. No entanto, a eleição não aconteceu devido à recondução do então presidente ao cargo.
Assim que Ednaldo foi retirado do cargo pela segunda vez, no dia 15 de maio, Zveiter se uniu a presidentes de federações e a diretores da CBF ligados ao IDP, empresa do ministro Gilmar Mendes que tem contrato com a confederação para cuidar da CBF Academy, para definir a estratégia que levou ao nome de Xaud e ao bloqueio de qualquer candidatura contrária.
Inicialmente, 19 federações estavam alinhadas ao grupo, número que depois subiu para 25. Isso inviabilizou a candidatura de Reinaldo Carneiro Bastos, presidente da Federação Paulista de Futebol, que não conseguiu o mínimo de oito assinaturas exigidas para disputar a eleição.
Zveiter, um dos principais articuladores do grupo, optou por não disputar a presidência e integrou a chapa como vice. O nome de Xaud foi escolhido por seu perfil mais jovem, ele tem 41 anos, e por representar uma federação de menor expressão, a de Roraima, o que, na visão do grupo, facilitava a aceitação de seu nome por outras entidades, já que ele nunca havia protagonizado disputas de poder.
Existe a possibilidade de Zveiter assumir um cargo formal na diretoria da CBF, como CEO, por exemplo. Nos próximos anos, ele será o responsável por negociar com os clubes a criação de uma liga independente para organizar as Séries A e B do Campeonato Brasileiro. Por ter mantido relação recente com a Libra, um dos blocos de clubes, Zveiter já conta com boa relação com parte das agremiações.
Ele também ficará encarregado de melhorar o suporte e a estrutura das divisões inferiores, como as Séries C e D, além de estudar a eventual criação de uma Série E, que daria a mais clubes calendário para além dos campeonatos estaduais.
Outra missão de Zveiter será discutir o possível enxugamento do calendário dos Estaduais, uma demanda de alguns clubes que, por ora, são críticos à nova gestão e não compareceram à sede da CBF, no Rio de Janeiro, para votar em Xaud. O desafio, nesse caso, será o enfrentamento com as federações, que sustentam o poder dentro da entidade e têm nos Estaduais sua principal fonte de receita durante os quatro meses de disputa.
“A promessa é dar autonomia a todos, descentralizar decisões. Estamos definindo como isso será feito”, disse Xaud após ser eleito.
Ancelotti terá carta branca
Samir Xaud terá a seleção sob seu guarda-chuva. Gustavo Feijó, um dos principais articuladores entre as federações do grupo que estará no poder, o ajudará, segundo apurou a coluna. Não se sabe se ele terá um cargo específico. Procurado, Feijó disse desconhecer essa informação.
A nova gestão pretende analisar, por exemplo, o contato com a Nike, assinado por Ednaldo Rodrigues até 2038. A antiga gestão alardeava que o valor anual poderia chegar a R$ 1 bilhão, a depender da venda de camisas. Pela primeira vez, a CBF terá direito a royalties, mas isso abriu brecha para a empresa estadunidense produzir camisas com cores alternativas, como o rosa/vermelho que vazou recentemente.
Carlo Ancelotti terá carta branca para opinar sobre locais de treinos e jogos da Seleção. O Brasil enfrentará o Paraguai, em 10 de junho, na Neo Química Arena, em São Paulo, pelas Eliminatórias da Copa de 2026. Outro jogo será realizado no país em setembro. Nos amistosos programados para outubro e novembro de 2025, e março de 2026, Ancelotti poderá vetar locais que considere inadequados. A escolha dos adversários também passará por seu crivo. Toda essa interlocução será de responsabilidade de Xaud.
Outros vice-presidentes terão funções específicas. Fernando Sarney, por exemplo, deve ser o representante do Brasil na Fifa e na Conmebol. O país perdeu seu assento no Conselho da Fifa com o afastamento de Ednaldo, mas espera recuperá-lo com a boa relação de Sarney na entidade. A área jurídica deve continuar sob comando do grupo ligado ao IDP. Já os setores de marketing e administração passarão por mudanças.
Marcel Rizzo - Estadão